Hoje acordei nostálgica, lembrando recortes da doce infância, das cumplicidades em família, da bagunça em geral. Deste baú mental de guardados, uma história que minha mãe sempre contava na hora de dormir insistiu em sobressair das lembranças, pedindo para ser compartilhado com você, amigo leitor.

Pois estava Amanda com seus 37 anos, sentada na areia da praia, a contemplar o reflexo do nascer do sol nas ondas do mar, tendo ainda o rosto em cócegas pela suave brisa (que teimava em espalhar ainda mais seus cabelos castanhos).

Este era o primeiro momento em que, após meses de intenso trabalho, podia parar e conversar um pouco consigo mesma, afugentar incertezas que lhe comprimiam o coração.

Olhar o mar, pensava ela, é um convite à reflexão. Contemplar a imensidão do oceano e suas ondas, avistar o sol ao horizonte, vento ao rosto, tranquilizava o coração, acalmava a alma e serenava os pensamentos.

E na tranquilidade deste instante, em frente a esta paradisíaca paisagem, Amanda percebeu a generosidade de Deus para com ela, pois sempre foi cercada de boas pessoas, que brindavam suas vitórias, pontuavam seus erros e a confortavam nos desafios. Dificuldades também existiam (algumas insistentemente impostas por ela mesma), mas também estes percalços eram uma forma de dádiva, pois sinalizavam um novo aprendizado ou um novo começo.

Somente então atentou em que na verdade não estava conversando consigo mesma, mas sim em intenso diálogo com o Criador, momento de oração única, sem formatos pré-estabelecidos.

O vai e vem das ondas eram como respostas a cada uma de suas incertezas. A brisa em seu rosto (que continuava a brincar com seus cabelos) eram afagos de Deus, sendo também um sopro a afastar todos os seus temores. E como não poderia deixar de ser, os raios do sol eram um enorme e afetuoso abraço, que tocavam fundo seu espírito.

Percebeu então, como um estalo, inspiração pura (por certo divina), que aquela linda paisagem, que tanta paz lhe transmitia, era tão-somente um lembrete que Deus sempre a acompanhava, em todos os momentos de sua vida, a cada instante de sua existência. Deus não estava apenas ali, estava em todos os lugares.

Ele, assim como o sol daquela manhã, sempre esteve pronto a lhe dar um caloroso abraço. Também como a brisa, num leve sopro afastava seus temores (por vezes também rebelando seus cabelos – ah esses meus cabelos!!). E o tic tac do relógio era como as ondas do mar, sempre oportunizando um novo instante para solucionar os problemas que lhe afligiam.

Bastava a ela, Amanda (e talvez, quem sabe, a uma parte da humanidade) permitir-se sentir a presença de Deus a todo tempo ou lugar, fazendo de sua casa, de seu trabalho, também um retrato do paraíso, transmitindo a todos a generosidade do Criador. Como um espelho, dependia exclusivamente dela receber e refletir a Luz de Deus.

Amanda percebeu (como já denunciava seu nome), que Deus, como Pai Criador, ama seus filhos de forma incondicional, estando sempre pronto a acolhê-los, seja nas grandes vitórias, como nos desafios do dia a dia. Essa era a única verdade que efetivamente importava….

Talvez este pequeno conto seja apenas mais um como tantos outros, contados todas as noites, por pais e mães à beira da cama, ao lado de seus pequenos. Mas para mim é mais do que um conto – é uma história única, que dialoga com o meu ser.

É a história da minha divertida mãe de coração, Amanda, que após este dia, quando na praia relembrou que Deus sempre a acompanhava, amadureceu o que chamava de sábia decisão: adotar esta que vos fala (ou escreve?). Somos unidas e risonhas até hoje. E sim, puxei os cabelos revoltos da minha mãe de coração.

ID: 2020-09-00010
Temática: Preparatório Nacional 2021 – Esperança
Estilo: PodCast
Título: Crônica de Amanda
Autor:  Charles Michel Lima Dias
Colaboração: Alexandre Barra, Maria Angélica de Oliveira, Marcelle Azeredo Santos
Locução: Milena Bonato Dias
Data:  05/10/2020