Era uma vez o chefe e a imagem, dois personagens que se adoravam como poucos. Viviam em uma floresta. Ele, sempre com agenda e poder. Ela, sempre esperando por um olhar dele. Ele, sempre nos holofotes, cercado de bajuladores. Ela, sempre na sombra, solitária no espelho. Eles se encontravam pela manhã, pela noite ou em momentos fortuitos e lugares inesperados, como elevadores, banheiros ou nos focos das selfies. Ele, pragmático; ela, romântica.
Eis que no meio de uma crise sem precedentes, se paralisaram frente a frente. Resultou uma história triste. Chefe e imagem concordavam em tudo, mas não decidiam nada. O chefe, completamente obcecado pela imagem, falava muito, mas não dizia nada. E a imagem, embevecida e alinhada, concordava com tudo, reforçando as frágeis convicções do chefe. A floresta ardeu. Sofreu. Morreu. Afinal, não há nada que resista quando chefe e imagem mentem de mãos dadas. O único destino é viverem em função de si mesmos.
Na floresta vizinha, viviam outros dois personagens: a inspiração e o pensamento. Eles se respeitavam intensamente. Ela, sempre propositiva e participativa. Ele, sempre construindo, contribuindo, refletindo e gerando novas sinapses. Ela e ele viviam debatendo. Um podia viver sem o outro, mas queriam estar juntos. O tempo todo em encontro, ora em confronto, indo ao ponto; sempre prontos para agir. Ela, simples e admirada. Ele, curioso e desafiador.
Eis que no meio da mesma crise sem precedentes, se esmeraram em servir a todos incondicionalmente. Resultou um caminho difícil, porém com alternativas, coragem e compaixão, sementes de amparo e reconstrução. A inspiração levava todos adiante pelo exemplo; o pensamento criava, propunha, empoderava: todos podemos e juntos faremos mais! A floresta ardeu. Sofreu. Aos poucos, voltou. Viveu. Afinal, tudo resiste mais resiliente e consistente quando inspirado, fazendo da esperança a mola propulsora da realização. O destino é múltiplo, cheio de possibilidades, plural, inclusivo e diverso.
Quantas famílias estão em cada uma dessas florestas? Quantas marcas estão em cada uma dessas florestas? Quantas empresas estão em cada uma dessas florestas? Quantos governos estão em cada uma dessas florestas? A que modelo abraçamos para nossas vidas? Estamos asfixiados pelo espelho ou libertados pela reflexão? Somos reflexos ou refletores? Estamos presos na imagem ou abertos para as conexões? Sim, é sobre isso tudo e muito mais que se tratam passado, presente, futuro, arbítrio.
Somos hipóteses e teorias que precisam de validação e ação.
Depende de cada um e de todos nós, laços da mesma espécie e vivendo na enorme e redonda floresta azul.
Sempre haverá espaço para a mediocridade bem articulada que faz arder, sofrer e morrer, quase sem perceber. Afinal, a imagem vai embora toda vez que se sai da frente do espelho. Mas há de haver mais espaço para a inspiração e para o pensamento. Afinal, o que se espera da humanidade? Sermos sombra ou luz? Sermos joio ou trigo? Sermos Narciso ou Aristóteles?
Ao eleger nossos propósitos, determinamos com ações nosso destino e legado. Simplicidade, humildade, lealdade, vontade, verdade. Palavras lindas, conceitos abstratos, valores e comportamento concreto é o que se espera. Todos os dias precisamos nos dedicar mais a ser quem nos propusemos. Não é fácil, pois o espelho está cada vez mais presente, nos tentando com a vaidade e omissão. Cabe buscar na inspiração e pensamento a libertação do doce e enganoso conforto. Sim, não quebrar o espelho pode ser mais forte do que azar ou sorte.
O convite ao novo está disponível, gritando do outro lado da porta, oferecendo tempo mais do que suficiente para decidir quem queremos ser como ser
E agora? É agora!
ID: 2020-05-00007
Temática: Preparatório Nacional 2021 – Esperança
Estilo: PodCast
Título: O Espelho e a Liderança
Autor: Cadu Ocáriz
Data: 29 de maio de 2020
